Saudade.
Tenho saudades de quando éramos duas almas num só ser, de quando nos completávamos, de quando nos bastávamos um ao outro para ser perfeitos.
Tenho saudades daquele mundo à parte que ambos criámos para ser habitado por nós, um mundo à nossa medida, sem defeitos nem imperfeições, em que cada detalhe se tornava principal, mas não tão principal como a nossa presença.
Queria poder assegurar-me de que vais para sempre guardar contigo tudo o que eu te dei, de que o nosso mundo nunca vai escurecer, de que vamos para sempre permanecer perfeitos, nem que apenas numa memória quase apagada pelo tempo.
Queria que o reflexo de nós durasse eternamente, que nunca deixássemos de ser iluminados, que nos reordásse-mos de nós mesmo depois de sermos esquecidos pela vida.
Sei que tudo isto é apenas ilusão de uma inaudita história que de tão perfeita se aniquilou naturalmente.
Costumavasse dizer que a esperança era a última a morrer, agora entendo por que razão. Porque eu morri antes da esperança e ela permanece no esboço daquela em que me tornarei, mesmo que o ideal fosse condená-la por me ter matado. Finalmente percebo que a esperança é imortal, porque esperança é apenas um eufemismo de sonho, e sem sonho não há vida.
Agora tenho apenas de me regenerar, de me reconstruir para poder voltar a ser eu, certamente diferente da minha antiga pessoa, mas eu.
Mary , 3 de Abril de 2007